Fundador do abrigo Nowzad critica forma como os países ocidentais saíram do Afeganistão e abandonaram os civis à sorte dos talibãs e pede ao Governo britânico que salve a sua equipa, composta por homens e mulheres afegãos e os seus animais cães e gatos

Segundo a reportagem da BBC, o antigo militar da marinha britânica fez um apelo ao governo do Reino Unido para ajudar as pessoas que trabalham consigo no abrigo a deixar o Afeganistão. Paul “Pen” Farthing afirmou que não os deixaria para trás para “sofrerem um destino” que o Ocidente lhes impôs, por isso quer os políticos britânicos “façam a coisa certa”, retirando-os todos do Afeganistão.
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O apelo foi feito nas redes sociais, onde foi criada uma campanha para pressionar o Governo, uma vez que estes refugiados não se incluem na lista prioritário do Executivo britânico, que numa primeira fase vai privilegiar a evacuação de intérpretes e pessoas que trabalharam para o Reino Unido.

A BBC adianta que o Ministério dos Negócios Estrangeiros está em contacto com o antigo soldado para oferecer auxílio.

 

Abrigo para animais criado há 15 anos

O abrigo de animais que Farthing criou tem quase tanto tempo como a ocupação estrangeira do Afeganistão entre os dois governos talibãs.

A instituição, chamada Nowzad , foi criada há 15 anos pelo ex-fuzileiro que serviu na província afegã de Helmand, em meados dos anos 2000.

 

Conceito raro no Afeganistão, o abrigo para cães e gatos vadios e burros maltratados, ajudou a aumentar a consciência do bem-estar animal no país e a salvar cada vez mais animais em más condições e vítimas de maus-tratos.

Na clínica veterinária formou as primeiras mulheres veterinárias afegâs totalmente qualificadas do país, temendo agora pelo seu futuro entregue à sorte dos talibãs.

“Penso que não há palavras para descrever o que estão a sentir neste momento. O que se diz a alguém que provavelmente vai ser obrigado a casar com um combatente talibã e acabar por viver em casa, sem nunca poder sair e apenas a criar filhos com alguém que detesta absolutamente?”

A instituição de caridade cuidou, até agora, de mais de 140 cães e 40 gatos, que depois juntava com os soldados que os resgataram, durante as suas missões no Afeganistão.

Esperança destruída

Paul Farthing, que serviu com os Royal Marines na província afegã de Helmand, em meados dos anos 2000, criou o santuário Nowzad há 15 anos. O objetivo era ajudar a aumentar a consciencialização da população sobre o bem-estar dos animais.

Durante a implantação de tropas britânicas em Nawzad, Pen Farthing e suas tropas interromperam uma luta entre dois cães – no Afeganistão é costume da população treinar os animais para lutarem uns contra os outros.

A dupla passou seis meses juntos e o cão recebeu o nome da cidade, Nawzad. Ao fim da implantação militar na região, ele levou o animal com ele para o Reino Unido.

Foi este gesto que o inspirou a reunir outros militares e mulheres com cães e gatos que tinham feito amizade enquanto serviam – e assim nasceu a instituição de caridade Nowzad.“Demos às pessoas esperança, aspirações e sonhos para o futuro. Em questão de semanas, acabamos de arrancá-los deles”, lamentou ele em entrevista à BBC, ao ressaltar que não tem esperanças de que o regime do Talibã tenha mudado para melhor.

 

Fonte : https://www.metropoles.com/